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As melhores informações sobre procedimentos hemodinâmicos nas cardiopatias congênitas estão no nosso blog. Fique por dentro de todas nossas novidades.

Muitas vezes, temos que passar por uma cirurgia ou algum procedimento que necessite de anestesia. Neste momento, o médico que indica ou solicita a cirurgia, corriqueiramente, solicita uma avaliação pré-operatória _ o tão conhecido risco cirúrgico!!!

O que é esse risco cirúrgico? Tenho risco aumentado para a cirurgia? Como saber?

O risco cirúrgico nada mais é do que uma avaliação médica (geralmente feita pelo pediatra, anestesista ou cardiologista pediátrico) na procura de doenças ou alterações do paciente que possam colocá-lo em risco aumentado ou não para fazer determinado procedimento/cirúrgico.

Baseado nesta avaliação (relato de sintomas, antecedentes pessoais e e exame físico), o médico pode solicitar ou não exames complementares. É importante salientar que, na maior parte das vezes, se o paciente não tem histórico de doença, não é necessário nenhum exame complementar!

Citarei abaixo alguns exames complementares que podem ser pedidos dependendo da avaliação inicial:

# Hemoglobina e hematócrito (avaliar quantidade das células que transportam oxigênio): pacientes menores de 1 ano de vida/ meninas pós menarca (primeira menstruação)/ risco de sangramento significativo na cirurgia (depende do tipo de cirurgia proposta)/ pacientes com doença crônica / suspeita clínica de anemia.

# Coagulograma e plaquetas (exames que avaliam a capacidade do sangue parar um sangramento): anamnese (história) sugestiva de doença de hemostasia/ cirurgia com by-pass cardio-pulmonar (grande parte das cirurgias cardíacas)/ quando pequenos sangramentos no intra-operatório são um problema (cirurgia oftalmológica e neurocirurgia)/ hepatopatia (doença do fígado)/ uso de AAS ou anticoagulantes/ uso crônico de alguns antibióticos que pode levar à depleção de fatores de coagulação.

# Eletrólitos: pacientes em uso de diuréticos (furosemida, espironolactona e hidroclorotiazida por exemplo)/ pacientes com história de diarréia/ pacientes com história de vômitos.

# Eletrocardiograma: pacientes com sopro cardíaco/ suspeita de cardiopatia/ pacientes com apnéia obstrutiva do sono/ escoliose intensa/ broncodisplasia pulmonar/ doença neuromuscular em bebês e crianças menores de 6 meses de vida.

# Urianálise (exame de urina): procedimentos urológicos específicos/ sintomas urinários.

# Raio X de tórax: pacientes sabidamente pneumopatas ou cardiopatas

# Teste de gravidez: em pacientes femininas pós menarca (primeira menstruação), se atraso menstrual / supeita clínica de gestação.

#Validade dos exames: até 6 meses.

Outra pergunta muito comum: doutor, meu(minha) filho(a) vai fazer cirurgia, quanto tempo de jejum???

O tempo de jejum varia dependendo do serviço e quem decide é o médico responsável pela anestesia. Porém, segue abaixo, uma tabela com uma orientação de tempo de jejum dependendo da dieta do paciente.



Bebês e crianças que têm dificuldade de ganho de peso devem ser avaliados, inicialmente, quanto à ingestão adequada de nutrientes (quantidade e qualidade da alimentação).

Uma vez descartada a alimentação inadequada, devem ser investigadas doenças e síndromes que justifiquem a dificuldade de ganho de peso.

Deve-se descartar entre essas doenças e síndromes, a cardiopatia congênita, principalmente na presença de sopro cardíaco.

O sopro cardíaco é o barulho que se ouve com o aparelho (estetoscópio) quando este é posicionado sobre o peito do paciente. Este barulho geralmente está associado ao turbilhonamento do sangue, quando este passa por um aperto ou por uma abertura que não deveria existir no coração.

Existe uma classe de cardiopatias congênitas que está associada a baixo ganho ponderal: são as cardiopatias de hiperfluxo pulmonar. De forma resumida, nestas cardiopatias existe fluxo em excesso para as artérias do pulmão, fazendo com que o paciente seja mais cansado, tenha dificuldade de engordar, tenho pneumonias recorrentes e até tenha a pele mais úmida do que o normal (pelo suor).

Hoje vamos falar de uma das principais causa de sopro na criança que é uma cardiopatia de hiperfluxo pulmonar: A persistência do canal arterial (PCA)

 

–>  O que é o canal arterial?

O canal arterial é uma comunicação entre a aorta (grande vaso que carrega o sangue oxigenado bombeado pelo coração para todo o corpo) e a artéria pulmonar (vaso que carrega o sangue pouco oxigenado bombeado pelo coração para o pulmão para receber oxigênio e descartar gás carbônico).

A canal arterial é uma estrutura essencial para a circulação do feto, ou seja indispensável à nossa vida no útero de nossas mães. Desta forma, todos nós já tivemos o canal arterial. Porém, o normal é, após o nascimento, esta comunicação fechar (até o sétimo dia de vida).

 

–> O que é a doença Persistência do Canal Arterial?

É uma cardiopatia congênita (malformação do coração de nascença), em que o canal arterial se mantem aberto. Neste caso, parte do sangue que é bombeado para a aorta (com maior pressão) é desviado para a artéria pulmonar (que tem menor pressão), levando a um aumento de sangue indo para os pulmões (hiperfluxo pulmonar).

 

–>  Qual a frequência desta doença?

A persistência do canal arterial é uma das cardiopatias mais frequentes, correspondendo a 12% das malformações cardíacas.

 

–>  O que o paciente apresenta ou sente nesta doença?

As alterações do coração e os sintomas variam com o tamanho (calibre) do canal arterial.

Casos em que o canal arterial é muito pequeno: os pacientes não têm aumento do tamanho do coração, não sentem cansaço e não apresentam sopro.

Casos em que o canal arterial é pequeno: os pacientes não têm aumento do tamanho do coração, não sentem cansaço, mas apresentam sopro.

Casos em que o canal arterial é grande: os pacientes apresentam tamanho aumentado do coração, sentem cansaço, baixo ganho de peso e apresentam sopro cardíaco.

 

–> Como é feito o diagnóstico de PCA?

A avaliação pelo pediatra ou pelo cardiopediatra que escuta o sopro no coração já deve levantar a suspeita. Entre os exames que ajudam a diagnosticar temos Raio X de tórax, eletrocardiograma e principalmente o ecocardiograma transtorácico.

 

–> Como tratar o PCA?

Existem medicações que ajudam a diminuir os sintomas, por exemplo ajude a diminuir o cansaço. Porém o tratamento definitivo e curativo se resume na oclusão/fechamento do canal arterial. Este fechamento pode ser feito por cateterismo (oclusão percutânea do canal arterial) ou por cirurgia. Ambos têm ótimos resultados e baixa taxa de complicação.

 

–>Todo PCA deve ser fechado?

Não. Todos os canais arteriais que tragam repercussão devem ser fechados (por cateterismo ou cirurgia). A repercussão pode se resumir a aumento do tamanho do coração ou a sintomas de hiperfluxo pulmonar (citados acima).

Nos pacientes que não têm repercussão não está indicada a cirurgia para fechamento do canal arterial (relação de risco benefício), independente da presença ou não de sopro cardíaco.

Nos pacientes que não têm repercussão pode-se realizar o cateterismo cardíaco para fechamento do canal arterial, independente da presença ou não de sopro cardíaco.

Um dado importante a ser avaliado antes do fechamento do canal arterial por cirurgia ou por cateterismo é a presença de doença dos vasos arteriais do pulmão (caracterizada por Hipertensão arterial pulmonar). Nestes casos é contra-indicado o fechamento do canal arterial.

 



          A hipertensão arterial sistêmica é uma doença muitas vezes silenciosa, de forma que o paciente muitas vezes não sente nada, mas com o passar do tempo aumenta o risco de infartar, de ter derrame cerebral, entre outras complicações.
          Agora, imagina o paciente que desde criança ou desde adolescente já apresenta hipertensão arterial. Ele muito provavelmente quando chegar na idade adulta terá mais chance de ter complicações como infarto e derrame cerebral do que um paciente que começou a ser hipertenso apenas após os 30-40 anos de vida.
          Existem inúmeras causas para a hipertensão arterial, e principalmente na criança e no adolescente, essas causas têm que ser investigadas. Entre as causas existem tumores (feocromocitoma), doenças renais, doenças dos vasos que irrigam os rins, doenças da tireóide, uso crônico de corticóide, cardiopatia congênita (coartação da aorta), entre outras.
           Independente da causa da hipertensão arterial, se o paciente tratar a causa ou pelo menos controlar a pressão com uso de medicações, ele terá uma melhora de qualidade de vida e diminuição importante do risco de sofrer das complicações tão conhecidas na população adulta (infarto e derrame cerebral).
           O foco deste texto é focar em uma cardiopatia congênita que cursa com hipertensão arterial que muitas vezes passa despercebido pelo pediatra e médico de consultório: COARTAÇÃO DA AORTA.
 
 O que é a Coartação da Aorta?
           A coartação da aorta é uma cardiopatia congênita, ou seja, uma malformação que já vem desde o nascimento. Ela é definida como um estreitamento da aorta (vaso que transporta o sangue oxigenado bombeado pelo coração em direção a todos os tecidos do corpo).
 
 Quão frequente é a Coartação da Aorta?
          Essa doença representa 5% de todas as malformações cardíacas congênitas.
 Por que a Coartação da Aorta gera problemas à saúde?
          Na prática, funciona como uma mangueira parcialmente fechada, o sangue passa com dificuldade pelo aperto aumentando a pressão para trás e aumentando o esforço que o coração do paciente faz para bombear. Geralmente o esforço é tão importante que o coração começa a ficar musculoso (hipertrófico) assim como os músculos de alguém que faz musculação. O coração tende com o tempo a aumentar de tamanho e até a perder a sua força de contração (já não tem mais força para bombear o sangue).
O corpo, principalmente os rins, deixa de receber o sangue adequadamente e interpreta que precisam aumentar a quantidade de líquido e sal no corpo, entre outros agentes, que são responsáveis por aumentar a pressão. Como o aperto na coartação da aorta é logo após os vasos que irrigam os braços, a pressão medida nos braços (pré estreitamento) é alta e a pressão medida nas pernas (pós estreitamento) é baixa.
 
 Quais os sintomas da Coartação da Aorta?
          Depende da idade e do quão apertado é o estreitamento.
          Em casos extremos, o aperto é tão importante que o bebê ou lactente (paciente até 2 anos de idade) apresentam quadro de insuficiência cardíaca (cansaço importante, diminuição da quantidade de urina, pele úmida e gelada,etc).
          Geralmente, nas crianças e nos adolescentes, os pacientes ou não apresentam sintomas ou apresentam sintomas relacionados a hipertensão arterial sistêmica (alguns apresentam cefaleia, epistaxe) ou fraqueza nas pernas (pela dificuldade do sangue chegar nos músculos das pernas).
 
 Como descobrir ou investigar essa doença?
           Além do médico (pediatra ou cardiologista pediátrico) perguntas sobre queixas, ele deve medir a pressão arterial do paciente e palpar os pulsos (nos braços e nas pernas).
           Os exames que ajudam a diagnosticar são Raio X de tórax, eletrocardiograma, ecocardiograma transtorácico, angiotomografia da aorta e cateterismo cardíaco.
 
 Como tratar?
           O tratamento da coartação da aorta é focado em retirar o aperto. Isto pode ser feito por cateterismo cardíaco ou por cirurgia.
          Fora o tratamento mecânico do aperto, é recomendado muitas vezes o uso de medicamentos anti-hipertensivos para que os níveis de pressão do paciente fiquem dentro da normalidade.
          É importante lembrar que na maioria das vezes, quando se corrige o aperto (por cateterismo ou por cirurgia), a pressão retorna ao normal e o paciente tem condições de ter uma vida normal.
          Em alguns casos, o paciente mesmo tratando o aperto, evolui com hipertensão arterial precisando de remédio. Porém nestes casos a quantidade de remédio necessária é menor do que se o paciente não tratar o aperto.
 
Dr. Jonathan Lombardi, CRM 23090
Dr. Paulo Calamita, CRM 23077
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A atriosseptosmia com balão é um procedimento realizado através do cateterismo cardíaco. Esse procedimento é indicado para portadores de cardiopatias congênitas onde a presença de uma comunicação efetiva entre os átrios do coração é fundamental para a sobrevivência deste paciente. Em outras palavras, é preciso haver um buraco entre os átrios para que o coração e o pulmão se entendam.

Mas, para que serviria exatamente esse buraco?

– Misturar o sangue entre as câmaras do coração:  Existe uma doença conhecida como transposição das grandes artérias, onde os grandes vasos que saem do coração e levam sangue para o pulmão e para o resto do corpo saem do coração de forma invertida, e dessa forma o circuito só funciona se as câmaras (principalmente as atriais) se comunicarem.

– Espectro de hipoplasia do ventrículo direito: Nesse caso, o ventrículo direito não se desenvolve adequadamente e o sangue proveniente do corpo (com pouco oxigênio) não tem acesso efetivo ao pulmão, ficando todo represado no átrio direito. Desta forma a comunicação interatrial permite que o sangue vá do lado direito do coração para o lado esquerdo, para que seja bombeado para as circulações sistêmica e pulmonar.

– Espectro de hipoplasia do ventrículo esquerdo: Nesse caso, o sangue faz o caminho natural. Ao voltar oxigenado dos pulmões para o átrio esquerdo, ele ficaria represado deixando os pulmões congestos, pois o ventrículo esquerdo não dá conta do recado. A comunicação entre os átrios permite escoar esse montante de sangue e aliviar o trabalho dos pulmões.

– Hipertensão pulmonar: Costumo comparar essa causa a uma panela de pressão, que precisa de uma válvula de escape. Pois bem, nesse caso, os pulmões têm pressões tão altas, que o ventrículo direito vai à falência. A comunicação interatrial é a válvula de escape, nesse caso, do lado direito do coração, que fica com a pressão bastante aumentada.

Partindo do exposto acima, a depender da cardiopatia envolvida, o comportamento clínico que deve chamar a atenção para indicar com urgência esse procedimento pode ser: baixa saturação de oxigênio e/ou baixo débito cardíaco

Geralmente é feito nos primeiros dias de vida como procedimento paliativo para tirar de urgências e reduzir a mortalidade durante a cirurgia cardíaca aberta. Costuma ser realizada nas primeiras horas de vida e até dentro do útero em alguns centros.



Hoje vamos falar sobre uma das cardiopatias congênitas mais “famosas”, que ganhou destaque até nos cinemas. Quem se lembra do filme “QUASE DEUSES”?  

Para refrescar a sua memória, esse clássico do cinema lançado em 2004 narra a história de Vivien Thomas (1910-1985) e Dr. Alfred Blalock (1899-1964) que desenvolveram em parceria com a Dra Helen Taussig (1898-1986) em 1945 no Hospital Universitário John Hopkins uma técnica cirúrgica consagrada até os dias de hoje para solucionar os casos da“ síndrome do bebê azul”, denominação antiga utilizada para caracterizar um problema cardíaco que parecia sem solução. Posteriormente, essa anomalia cardíaca ganhou e nome e sobrenome: TETRALOGIA DE FALLOT (T4F) e a cirurgia descrita no filme, conhecida como cirurgia de BLALOCK-TAUSSIG foi aprimorada, bem como novas perspectivas terapêuticas ganharam impacto, como descreveremos abaixo.

Mas o que é Tetralogia de Fallot? Trata-se de um conjunto de alterações cardíacas caracterizadas por: 

– Comunicação interventricular (CIV) 

– Desvio da origem da aorta para a direita (Dextroposição da aorta)

– Hipertrofia do ventrículo direito

– Desvio anterior do septo infundibular

Traduzindo: O coração tem 4 câmaras, sendo elas:  átrio direito, ventrículo direito, átrio esquerdo e ventrículo esquerdo. No coração normal, não há mistura de sangue entre as câmaras do lado esquerdo e as do lado direito. Dessa forma as câmaras cardíacas direitas recebem o sangue pobre em oxigênio, consumido previamente pelos órgãos e tecidos, que é bombeado do ventrículo direito para os pulmões através das artérias pulmonares. Assim sendo, o sangue rico em oxigênio é escoado para as câmaras cardíacas esquerdas através das veias pulmonares. O ventrículo esquerdo bombeia o sangue rico em nutrientes para a circulação sistêmica e coronariana.

Na T4F, existe uma comunicação entre as câmaras ventriculares denominada comunicação interventricular (CIV) e uma trave de músculos no ventrículo direito conhecida como septo infundibular, que funciona como uma porta, que costuma abrir e fechar a vazão de sangue para os pulmões. Na prática o sangue pobre em oxigênio segue o mesmo caminho. No momento de ser bombeado do ventrículo direito para o tronco pulmonar, a “porta muscular” dificulta essa passagem e o sangue acaba se desviando para o ventrículo esquerdo, que bombeia o mesmo para a circulação sistêmica, sem ser adequadamente oxigenado, caracterizando a antiga síndrome “bebê azul”, que é traduzido clinicamente por cianose.  

Existem espectros de gravidade dessa patologia, mas sendo prático, quanto mais difícil for o caminho do sangue para os pulmões, mais grave será a doença. Sendo assim, foram descritas 2 formas extremas de apresentação clínica, que serão melhores detalhadas adiante: PINK FALLOT, caracterizando situações em que o sangue chega com certa facilidade aos pulmões para ser adequadamente oxigenado e FALLOT EXTREMO: quando o sangue não consegue ser bombeado para a circulação pulmonar através do ventrículo direito, geralmente porque a “porta muscular” descrita como septo infundibular é tão fechada, que o sangue precisa achar outro caminho. Por sorte, nesses casos o sangue é obrigado a se desviar para o ventrículo esquerdo e quando o mesmo é bombeado, encontra vasos anômalos que comunicam a aorta à circulação pulmonar, conhecidos como canal arterial ou ainda colaterais sistêmico-pulmonares. Com isso, o sangue consegue ser parcialmente oxigenado, garantindo o funcionamento dos diferentes órgãos e tecidos do organismo. O último subtipo descrito costuma ter anomalias, tais como graus de hipoplasia das artérias pulmonares, tendo pior prognóstico e estratégias terapêuticas particulares. 

Essa doença é comum? De uma forma geral, um em cada 100 nascidos vivos nascem com algum grau de malformação do coração. No caso da T4F, sua prevalência está em torno de 4 a 5 para cada 10.000 nascidos vivos. É responsável por 7-10% dos casos de cardiopatias congênitas. Pode parecer raro, mas transponha esses números para as grandes capitais e observaremos que essa patologia pode ser bem frequente.

Associação com outras anomalias e síndromes: uma porcentagem dos pacientes pode ter outras alterações cardíacas associadas, tais como: comunicação interatrial, defeito do septo atrioventricular total,  dupla via de saída do ventrículo direito, anomalias das artérias coronárias, estenose da valva pulmonar, arco aórtico para a direita, persistência do canal arterial, colaterais sistêmico pulmonares, estenose das artérias pulmonares, entre outras.

É comum a T4F fazer parte de uma síndrome, tais como Síndrome de Down, Síndrome de Alagille  e Síndrome de DiGeorge. Nas formas esporádicas, já existem alguns casos demonstrando relação genética e casos dentro da mesma família.

Manifestações clínicas: depende do grau de obstrução ao fluxo sanguíneo pulmonar. Em outras palavras, o espectro clínico como antes descrito, depende de quanto a “porta de músculo” do ventrículo direito dificulta a chegada de sangue aos pulmões.

Para os pacientes com obstrução severa ao fluxo pulmonar, condição conhecida como “FALLOT DE MÁ ANATOMIA”:  nesses casos existe muito músculo no ventrículo direito dificultando a passagem de sangue para os pulmões junto com a valva pulmonar e as artérias pulmonares que apresentam graus de hipoplasia (tamanho reduzido). As manifestações clínicas são precoces e semelhantes aos casos com atresia da valva pulmonar (valva pulmonar imperfurada), como é o caso do “FALLOT EXTREMO”, descrito acima. Muitas vezes, nesses casos é necessária a infusão de uma medicação chamada prostaglandina para manter o canal arterial aberto até programação de abordagem cirúrgica ou percutânea, como será descrito mais adiante, ainda no período neonatal.

Se a obstrução ao fluxo pulmonar for moderada e as circulações sistêmica e pulmonares forem equilibradas, os sintomas aparecerão de forma mais tardia, caracterizando os “FALLOT DE BOA ANATOMIA”. Muitas vezes é auscultado um sopro cardíaco detectado no atendimento pediátrico. 

Pacientes em que a obstrução é mínima, o período assintomático pode durar 4 a 6 semanas, quando começam a apresentar sinais de insuficiência cardíaca e excesso de sangue nos pulmões, condição conhecida e descrita previamente como “PINK FALLOT”.

Um outro espectro, mais raro é conhecido como TETRALOGIA DE FALLOT COM AGENESIA DA VALVA PULMONAR. Nessa condição o sangue flui livremente entre o ventrículo direito e as artérias pulmonares, sem a existência de uma valva pulmonar, que tem a função de abrir para o sangue ir para o pulmões durante a contração do ventrículo direito (VD) e fechar quando do relaxamento do VD. A ausência dessa valva permite com que o sangue “vá para frente e volta” livremente, levando ao aumento exagerado do tronco pulmonar. Por fim, ocasiona compressão extrínseca de estruturas adjacentes, tais como brônquios, o que atrapalha consideravelmente a dinâmica ventilatória dos pulmões, provocando o que se chama de atelectasias de repetição.

Diagnóstico: ecocardiograma transtorácico define o diagnóstico. Mas a suspeita costuma vir na maternidade pelo grau de cianose, que é aferida através de um aparelho chamado oxímetro de pulso, posicionado nos dedos ou outras extremidades (orelha), que indiretamente por meio de ondas de luz faz uma leitura aproximada do grau de oxigenação sanguínea, cujo valor normal são valores maiores que 95%. Nessa patologia, costuma-se encontrar valores entre 75-85%. Ou ainda nos casos mais brandos, é auscultado sopro cardíaco nas consultas de rotina pediátrica. Ferramentas acessórias como radiografia de tórax e eletrocardiograma costumam auxiliar na detecção do problema. Nos casos de suspeita de alguma malformação das artérias pulmonares ou da aorta, a angiotomografia ou cateterismo cardíaco podem complementar a avaliação ecocardiográfica. Lembrando aos leitores, que o diagnóstico pode ser feito ainda do útero materno através de uma ferramenta valiosa chamada ecocardiograma fetal, que nada mais é do que um ultrassom realizado no coração do feto, ainda dentro da barriga da mãe, geralmente a partir do segundo trimestre de gestação. Ele já pode dar várias pistas do espectro da doença, bem como sugerir, se existem outras anomalias cardíacas associadas. Dessa forma permite o planejamento adequado da gestação para selecionar os casos que devem nascer em serviço referenciado. Infelizmente, não são todos as gestantes que fazem um pré-natal adequado e o SUS ainda não cobre de rotina esse exame para todas as gestantes. Lembrando que dentro do útero, o feto não apresenta nenhum sintoma. Não são infrequentes casos descobertos “por caso” após o nascimento e infelizmente em condições de risco de vida.

Riscos e cuidados em casa: de uma forma geral, os pacientes com tetralogia de Fallot apresentam bom desenvolvimento neurológico e ganho de peso adequado. Geralmente, a partir do terceiro mês de vida, o risco de “crises de cianose” aumenta.

Este termo é utilizado para caracterizar episódios de cianose profunda e aguda em pacientes com essa anomalia. Seu mecanismo se justifica por contrações vigorosas da musculatura já descrita do septo infundibular no ventrículo direito, que como uma porta se fecha e impede a chegada do sangue aos pulmões. Tipicamente surge em bebês que se encontram agitados, ou em situações de dor, febre, anemia, hipovolemia, após evacuação com esforço e alimentação. Em crianças mais velhas (com o defeito não corrigido), podem ocorrer após exercícios vigorosos. Costuma ocorrer no período da manhã, mas essa não é uma regra. Apesar de sua resolução espontânea em alguns casos, o aumento da sua frequência deve ser encarado como um sinal de alerta. Frequentemente se inicia por choro inconsolável, cianose progressiva, perda da consciência, convulsões em alguns casos, parada cardiorrespiratória e óbito. A recomendação perante essa situação é tentar acalmar a criança e elevar os seus membros inferiores para melhorar o retorno de sangue para o lado direito do coração e dessa forma empurrar o sangue para as artérias pulmonares para que possa ser oxigenado. Trata-se de emergência médica que exige socorro imediato em serviço referenciado. Manter boa hidratação, vigiar anemias e manter o controle da febre nos quadros de infecções ou após vacinas podem ajudar a prevenir as crises.

Tratamento: essa cardiopatia precisa ser corrigida idealmente no primeiro ano de vida por cirurgia cardíaca aberta. As características anatômicas, presença de outros defeitos associados e espectro de gravidade norteiam as possíveis estratégias de tratamento.

Nos casos de “TETRALOGIA DE FALLOT DE MÁ ANATOMIA” e “FALLOT EXTREMO”, a abordagem deve englobar primeiro um procedimento paliativo, que pode ser através de cirurgia cardíaca aberta, com a confecção de um “shunt” entre a aorta e artéria pulmonar, essa é a famosa cirurgia de BLALOCK-TAUSSIG, descrita no filme retratado no começo desse texto, que costuma ser realizada ainda no período neonatal. Uma alternativa que vem sendo aprimorada é o implante de um stent no canal arterial através do cateterismo, garantindo fluxo sanguíneo aos pulmões de forma segura e menos invasiva. Por volta de 3-6 meses de vida, programa-se a correção cirúrgica total: a comunicação entre os ventrículos é fechada e a via de saída muscularizada é ampliada e reconstruída junto ao tronco pulmonar.

Nos casos de “BOA ANATOMIA”, a cirurgia ou o cateterismo cardíaco paliativo não costumam ser necessários, salvo em condições de urgência, como nas “crises de cianose” descritas acima. Nas crianças maiores a paliação pelo cateterismo consiste no implante de um stent na via de saída do ventrículo para manter a porta aberta para os pulmões. A opção é a correção total do defeito idealmente entre o 3º e 6º mês de vida.

Nos casos de “PINK FALLOT”, a cirurgia pode ser programada mais adiante

Evoluções e perspectivas: A boa notícia é que a maioria das crianças sobrevivem. Chegam na fase adulta, fazem faculdade, se casam, trabalham, sonham como todas as pessoas. Mas o seguimento com o cardiopediatra ou com cardiologistas com especialização em cardiopatia congênita de confiança deve persistir para o resto da vida. Raros são os casos que não precisam de reabordagens cirúrgicas para adequar o fluxo de sangue do ventrículo direito para os pulmões através de novas reconstruções e troca de sistemas valvulados. Felizmente, técnicas menos invasivas, como o cateterismo cardíaco têm sido aprimoradas para que válvulas pulmonares artificiais possam ser implantadas em posição pulmonar pela veia femoral, acessada pela virilha, evitando novas cirurgias abertas. Além do mais, projetos de pesquisa têm trabalhado na melhora progressiva desses dispositivos, sendo uma opção viável em muitos centros do mundo, inclusive em alguns locais do Brasil. Por fim, a expectativa e qualidade de vida dos portadores de tetralogia de Fallot são excelentes, mas convém alertar da importância vitalícia do cardiopediatra de confiança para a tomada de decisões corretas para se garantir o sucesso.



A pergunta muitas vezes não é quando corrigir, mas se pode ser corrigido o defeito cardíaco.
Aqui vai um recado muito importante para você que tem um filho, filha ou parente portador de síndrome de Down.
 
Essa síndrome é caracterizada pela trissomia do cromossomo 21. Para você entender melhor, quando os bebês se formal no útero materno, eles apresentam um arranjo de cromossomos, que são estruturas genéticas que caracterizam cada indivíduo, sendo metade proveniente da mãe e metade do pai. Dessa forma, carregamos traços e heranças genéticas das nossas famílias. Nossa espécie apresenta 23 pares de cromossomos, sendo um total de 46. Nos pacientes portadores da síndrome de Down, caprichosamente, ocorre uma desorganização no par do cromossomo 21, que ao invés de 2 passa a ter 3 cromossomos, totalizando um total de 47 cromossomos. Conseguiram entender? Por isso, que quando o pediatra suspeita da síndrome, ele pede um exame chamado cariótipo, que faz a leitura do desarranjo cromossômico e atesta o diagnóstico.
 
Por conta dessas alterações genéticas, o portador da síndrome de Down necessita de cuidados clínicos especiais. Para se ter uma idéia, quase metade das crianças com a síndrome nascem com algum problema no coração. A maioria delas necessitará de algum tipo de procedimento para se corrigir o problema de forma precoce. Acredite, isso impacta na qualidade de vida futura e no perfil de desenvolvimento desses pacientes.
 
Com os avanços da tecnologia, hoje já é possível saber de “dentro da barriga” se o bebê tem possibilidade de ter síndrome de Down através da avaliação ultrassonográfica. Mais do que isso, a partir da 20ª semana de gestação, é também possível avaliar se o mesmo é portador de alguma alteração cardíaca, para que a depender da situação, o parto seja programado em serviço que tenha retaguarda cardiopediátrica.
 
Existe um grupo particular de cardiopatias mais frequentes nesse grupo, que geralmente se caracterizam por paredes abertas entre os átrios ou ventrículos do coração, que deveriam se fechar. Ou ainda estruturas anômalas que comunicam a aorta com o tronco pulmonar, que também deveriam estar ausentes no nascimento. Basicamente são doenças que provocam o aumento do fluxo de sangue que chega nos pulmões e causam esforço respiratório aumentado, falta de ar e baixo ganho de peso.
 
O risco que se corre é evolução para hipertensão pulmonar, com risco de tornar proibitivo a correção do defeito intra-cardíaco. Mas tem como saber isso?
 
Felizmente, uma boa avaliação clínica e ecocardiográfica facilitam o rastreio de pacientes com esse risco. Mas o exame padrão ouro para esse diagnóstico é o cateterismo cardíaco que vai não somente avaliar a pressão pulmonar, mas consegue inferir se existe grau de doença nos vasos pulmonares, através do cálculo da resistência vascular pulmonar.
Para ficar mais claro, nas patologias cardíacas em que o sangue chega demais aos pulmões, situação conhecidacomo hiperfluxo pulmonar, ocorre lesão tardia da parede dos vasos sanguíneos do pulmão que ficam inflamados e futuramente ficam rígidos, caracterizado por graus de fibrose, o que aumenta a resistência da chegada do sangue aos pulmões. Esse cenário é delicado. Se os vasos dos pulmões já estão duros, a situação pode ser irreversível. Em vigência dessa condição, é preconizado a realização de um teste no próprio cateterismo com um gás chamado óxido nítrico,que em situações favoráveis afrouxam a rigidez dos vasos momentaneamente, mostrando grau de reversibilidade. Nesse momento, o objetivo é ver se existe queda da resistência vascular pulmonar, o que melhora o prognóstico. Caso contrário, a correção da cardiopatia pode ser até proibitiva.
 
Por isso é muito importante avaliação rotineira com cardiopediatra e seguir as orientações para que o paciente possa ter sua cardiopatia corrigida por cirurgia ou até cateterismo cardíaco em alguns casos.
 
Estamos à disposição. Marque uma consulta e tiraremos suas dúvidas quanto as cardiopatias e a importância e realização do cateterismo cardíaco
 
Dr. Paulo Calamita CRM 23077
Dr. Jonathan Lombardi, CRM 23090
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A cardiopatia congênita sempre causou medo. Receber a notícia da descoberta de um problema cardíaco de nascença traz muita angústia e sofrimento às famílias. Será que meu filho vai ter uma vida normal? Vai ser inteligente? Poderá praticar esportes? Fazer faculdade? Casar e ter filhos no futuro?
Ter uma cardiopatia congênita é um termo muito amplo. Significa que o seu filho nasceu com essa doença. Significa que o coração já era mau formado dentro da barriga.
Importante deixar bem claro, que isso não é culpa da mãe ou do pai, que esperaram tanto tempo pelo nascimento de uma criança abençoada.
Existem dezenas de diferentes cardiopatias, com diferentes características, gravidades e prognósticos. Mesmo com o coração já sendo doente dentro da barriga, a maioria das gestações evolui bem. A natureza é sábia. O feto vive em um ambiente úmido, rico em nutrientes maternos e tem uma ajudinha especial da placenta, que só existe na gravidez, é um órgão misto, que pertence à mãe e ao feto. Serve para oxigenar o sangue da criança e remover as suas impurezas.
Ao nascimento, muitas cardiopatias podem se manifestar clinicamente no período neonatal ou durante a infância. Como suspeitar desse problema?
Apesar da extensa gama de diferentes cardiopatias; as principais manifestações clínicas se encaixam em basicamente 4 grupos. Será que seu filho estará em um dos grupos citados abaixo?

# Grupo 1: Cianose: Arroxeamento dos lábios, o que pode ser percebido pela baixa saturação de oxigênio. Já ouviu falar disso? É quando no hospital, se utiliza um aparelho colocado nos dedos que faz a leitura da saturação de oxigênio. Na prática mostra que o sangue está sendo bem ou mal oxigenado no pulmão.

# Grupo 2: Hiperfluxo: O sangue chega em excesso nos pulmões. Nota-se respiração rápida e ofegante, com baixo ganho de peso. Esse quadro pode levar a pneumonias de repetição. Agora que você já aprendeu o termo cianose, vale ressaltar que esse grupo cursa sem cianose. Ou seja, o bebê respira rápido e saturação do oxigênio é normal, na maioria das vezes.

# Grupo 3: Arritmias: O problema está na parte elétrica do coração. Por vezes, o coração é anatomicamente normal, mas o sistema de eletricidade que faz o coração funcionar igual a uma bateria está com problema, é como se “fios elétricos” estivessem desencapados, gerando um curto circuito. O coração pode bater muito rápido (taquicardia) ou muito devagar (bradicardia). Muitas vezes o batimento do coração está fora do ritmo.

# Grupo 4: Sopro: Temor de muitas mães. O sopro é a uma vibração causada quando o sangue passa por algum lugar apertado ou frouxo. Geralmente uma válvula ou comunicação dentro do coração, de um lugar de maior pressão para um de menor pressão. Podemos exemplificar usando uma comparação com um esguicho do seu quintal. A hora que colocamos o dedo na saída de água para que a água saia com mais pressão, faz um barulhinho, não é mesmo? O sopro se comporta da mesma maneira.

Vamos a boas notícias? A cardiopediatria, como especialidade evoluiu muito. Os métodos diagnósticos, a gama de medicações, as técnicas cirúrgicas e o desenvolvimento de técnicas minimamente invasivas, através do cateterismo pediátrico se aprimoram dia após dia. Isso permite que todos possamos sonhar com um futuro para os seus filhos. E respondendo aquelas perguntas iniciais: Se filho vai crescer, vai se desenvolver, estudar, ser inteligente, poder fazer faculdade, praticar esportes e até de te dar netos no futuro, na maioria das vezes.

Se o seu filho é portador de cardiopatia congênita, procure a HEMOKIDS, marque uma consulta!



 

A CRIANÇA COM CARDIOPATIA NOS TEMPOS DE COVID-19: Posicionamento oficial conjunto

Departamento Científico de Cardiologia da Sociedade Brasileira de Pediatria Jorge Yussef Afiune – Presidente

Departamento de Cardiopatias Congênitas e Cardiologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Cardiologia
Klébia Castello Branco – Presidente

Departamento de Cirurgia Cardiovascular Pediátrica da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular
Fernando Antonialli – Presidente

Caros colegas,

A COVID-19 é uma doença respiratória causada por um novo tipo de coronavírus (SARS-CoV-2), já tendo acometido mais de 200.000 pessoas até a presente data e sendo relatados cerca de 8000 óbitos, com mortalidade ao redor de 4%.

O conhecimento desta doença ainda está em evolução e, apesar dos avanços significativos no delineamento epidemiológico e clínico, muitos questionamentos ainda aguardam esclarecimentos, inclusive sobre o comportamento da doença em climas tropicais como o nosso. É de interesse particular à nossa especialidade a determinação de grupos de risco e as medidas necessárias para proteção desta parcela da população e da população como um todo.

Sabe-se até o momento que a doença incide predominantemente em adultos, sendo que pessoas com idade acima de 60 anos e/ou com

comorbidades (entre elas a doença cardiovascular) apresentam maior risco de complicações. Por outro lado, observa-se menor incidência da doença entre crianças, com menor taxa de complicações e óbitos. Entretanto, ainda não sabemos o real risco do acometimento desta infecção em crianças com cardiopatias e suas potenciais complicações.

Deste modo, recomendamos às famílias de crianças com cardiopatias que sigam rigorosamente as recomendações do Ministério da Saúde em relação às medidas de prevenção desta infecção e procurem imediatamente contato com seus médicos caso haja manifestações sugestivas da doença.

A seguir descreveremos alguns aspectos particulares, além de recomendações relacionadas aos pacientes pediátricos com cardiopatias:

1) Quais são os grupos de maior risco para a COVID-19?

À luz do conhecimento atual, os grupos de maior risco para COVID-19 são os seguintes:

a. Adultos com idade acima de 60 anos;
b. Adultos com doenças crônicas: hipertensão arterial sistêmica,

Diabetes mellitus, câncer, doença cardiovascular crônica, doença pulmonar crônica (exemplos.: asma, fumantes, etc), doença renal crônica.

c. Imunossuprimidos e/ou imunocomprometidos

2)Qual é a incidência de COVID-19 em crianças? E em crianças cardiopatas?
Estudo realizado na China, com um total de 11.000 casos descritos até 10 de fevereiro de 2020, cerca de 400 casos ocorreram em crianças, o que corresponde a aproximadamente 4%. As crianças parecem ser menos susceptíveis à COVID-19, possivelmente devido ao fato de apresentarem menor expressão da enzima conversora de angiotensina 2, que é o receptor pulmonar do vírus SARS-CoV-2.

O prognóstico da infecção em crianças tem se apresentado melhor do que em pacientes adultos. Estudo publicado pela Academia Americana de Pediatria, que analisou 2.143 crianças chinesas infectadas, indicou que 4% eram assintomáticas; 51% tinham sintomas leves; 39% sintomas moderados e 6% apresentavam quadros graves. A proporção de casos graves variou de acordo com a faixa etária, sendo de 11% nos menores de 1 ano; 7% entre naqueles de 1 a 5 anos; 4% naqueles de 6 a 10 anos; 4% nos de 11 a 15 anos e 3% nos de 16 a 19 anos. No estudo foi registrado um óbito em uma criança de 14 anos.

Até o momento não existem dados referentes à incidência de COVID-19 especificamente em crianças com cardiopatia congênita.

3) Há possibilidade de transmissão transplacentária ou pelo leite materno?

Ainda não há evidência de infecção intrauterina pelo vírus nem de passagem através do leite materno. Os casos descritos em recém-nascidos ocorreram por infecção pós-natal. Sendo assim, até o momento não é aconselhável que se suspenda o aleitamento materno de bebês cujas mães estejam com COVID-19. No entanto, medidas para evitar a disseminação do vírus devem ser rigorosamente seguidas. São elas:

  • Lavar bem as mãos sempre antes de tocar no lactente ou em objetos como bomba extratora ou mamadeira;
  • Usar máscara facial no momento da amamentação.

    4) Quais são os riscos de COVID-19 para as crianças com cardiopatia?

    Embora ainda não existam informações suficientes para calcular o verdadeiro risco das crianças cardiopatas diante da COVID-19, podemos utilizar o conhecimento adquirido em relação a outras infecções respiratórias semelhantes, tais como infecções pelo vírus Influenza e vírus sincicial respiratório que também ocorrem em crianças cardiopatas. Em relação às cardiopatias, devemos lembrar que existam dois grupos bastante distintos em relação ao comportamento diante da COVID-19, sendo eles os seguintes:

  1. a)  Cardiopatias congênitas ou adquiridas sem repercussão

    hemodinâmica e cardiopatias que foram corrigidas por cirurgia ou cateterismo intervencionista e que estejam clinicamente bem e sem sinais de insuficiência cardíaca: neste grupo, o risco é semelhante ao da população pediátrica geral e a evolução da doença provavelmente será benigna na maioria dos casos.

  2. b)  Cardiopatias congênitas ou adquiridas que apresentem repercussão hemodinâmica significativa (insuficiência cardíaca, hipertensão pulmonar ou hipoxemia) e cardiopatias que já foram submetidas à correção cirúrgica, porém mantêm sinais de insuficiência cardíaca, hipertensão pulmonar, cianose ou hipoxemia: este é um grupo de risco para COVID-19 pois poderá apresentar agravamento das condições ventilatórias de forma mais precoce e intensa diante desta infecção.

5) Quais são os riscos para as crianças transplantadas do coração?

Embora ainda não tenhamos dados específicos referentes à COVID-19 em crianças transplantadas, sabemos que elas são um grupo de alto risco para infecções virais devido ao estado de imunossupressão a que estão submetidas. Neste momento, é recomendado manter a criança com certo grau de isolamento em domicílio, evitando-se frequentar locais de aglomeração. Deve-se estar atento aos cuidadores, evitando-se ao máximo o contato com pessoas com sintomas gripais. A COVID-19 em uma criança transplantada pode ter uma evolução muito rápida e altíssima gravidade.

6) Realização de cirurgia cardíaca pediátrica ou cateterismo intervencionista em tempos de COVID-19:

  1. a)  Recomendamos que seja feito o adiamento da realização de procedimentos cirúrgicos ou de cateterismo intervencionista/diagnóstico eletivos em pacientes portadores de cardiopatias cuja evolução clínica e funcional dos próximos 3 meses não acarretará agravamento do quadro cardiológico.
  2. b)  Recomendamos que, para os pacientes com cardiopatia grave e com significativa repercussão clínica e hemodinâmica, ou aqueles que apresentam risco de piora clínica iminente, os procedimentos cirúrgicos ou de cateterismo intervencionista, sempre que possível, sejam realizados dentro da programação já estabelecida. Esta decisão deve ser de cada instituição, porém devemos nos lembrar que grande parte das cardiopatias na criança são graves e o risco desta cardiopatia supera o risco da COVID-19. Sugerimos que os casos sejam avaliados individualmente em relação ao balanço entre o risco da COVID-19 e o dano causado ao paciente pelo adiamento do tratamento da cardiopatia.
  3. c)  Recomendamosqueatomadadedecisãosobreadiamentoounãodestes procedimentos seja realizada de forma compartilhada entre o cardiologista pediátrico, cirurgião cardíaco e/ou médico internvencionista e os familiares do paciente.

7) Consultas médicas e exames cardiológicos em tempos de COVID-19:

  1. a)  Recomendamos, sempre que possível, ADIAR a realização de consultas

    de rotina e de procedimentos diagnósticos eletivos.

  2. b)  Para os pacientes com cardiopatia em evolução ou cardiopatias graves,

    principalmente aquelas que necessitam de definição anatômica ou de estado funcional e que deverão ser submetidos à cirurgia cardíaca ou ao cateterismo intervencionista, devemos tentar manter seus agendamentos neste período. O benefício da realização da consulta ou exame cardiológico deve ser considerado superior ao risco de exposição ao COVID-19.

c) Para as consultas e exames, recomendamos espaçar os horários no intuito de reduzir o número de pacientes na sala de espera. Recomendamos que o paciente tenha apenas um acompanhante.

  1. d)  Pacientes imunossuprimidos deverão permanecer, sempre que possível, em casa.
  2. e)  Renovação de receitas de medicações de uso crônico poderão ser feitas por familiares jovens e sadios.
  3. f)  Recomendamos, sempre que possível, o uso da teleconsulta para avaliação do quadro clínico geral do paciente e orientações.

8) Uso de medicações cardiológicas em tempos de COVID-19:

Em relação ao uso de diuréticos, betabloqueadores, inibidores de ECA e BRA, ácido acetil salicílico e anticoagulantes, até o momento não existem evidências científicas definitivas que justifiquem a suspensão destas medicações.

A prescrição de ibuprofeno e corticoesteroides deve ser cautelosa. Embora não haja estudo disponível para faixa etária pediátrica, embasamos a recomendação nos estudos em adultos.

9) Imunização na criança com cardiopatia

Recomendamos reforçar a necessidade de manter atualizada a carteira de vacinação das crianças e adultos cardiopatas, dando especial ênfase à imunização das crianças contra Influenza, vírus sincicial respiratório e pneumococo.

10) Orientações sobre isolamento social

Recomendamos realizar a devida orientação dos pais e familiares quanto ao isolamento social, sendo elas as seguintes:

  1. a)  manter sempre a distância mínima de 1 metro de outras pessoas;
  2. b)  evitar abraços, beijos e apertos de mão. Lavar muito bem as mãos e cobrir o nariz e a boca com o braço quando for tossir ou espirrar;
  3. c) não compartilhar brinquedos ou outros objetos com outras crianças
  4. d) evitar aglomeração de crianças, mesmo que em locais abertos.

11) Cuidados de proteção individual para as equipes de cuidadores:

Recomendamos que todos os profissionais de saúde tentem reduzir ao máximo a chance de exposição desnecessária ao coronavírus. Identifque rapidamente se o paciente a ser atentido apresenta sinais de síndrome gripal suspeita ou confirmada de COVID-19. Nessa situação, não deixe de se proteger adequadamente. Recomenda-se o uso dos seguintes equipamentos de proteção individual:

  1. a) Máscara cirúrgica comum para o paciente e para o profissional.
    i) As máscaras tipo N95, devem ser utilizadas durante realização de procedimentos geradores de aerossóis como, por exemplo, intubação ou aspiração traqueal, ventilação não invasiva, ressuscitação cardiopulmonar, ventilação manual antes da intubação, indução de escarro, coletas de amostras nasotraqueais e broncoscopias.
  1. b)  Óculos de proteção ou “face shield”
  2. c)  Aventalcommangaslongas
  3. d)  Luvas não estéreis

Este é o momento de todos cultivarmos medidas institucionais de proteção de nossos pacientes e familiares e de todos os profissionais de saúde envolvidos. Estas medidas devem nos proteger do coronavírus, mas também devem nos proteger contra a epidemia do medo e a epidemia da informação. Precisamos, de forma serena e equilibrada, irradiar segurança e tranquilidade ao mesmo tempo em que tomados medidas adequadas para o enfrentamento desta epidemia.

Saíremos mais fortes desta crise!




CUIDADO, COM AMOR





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(62) 99151-4133


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